
“A pintura foi seu mundo e sua maneira de existir” (Merleau-Ponty)
Merleau-Ponty nos traz para discussão, ao apontar as incertezas de Cézanne -, se a sua personalidade inconformada, excêntrica, rebelde, uma espécie de esquizoidia e a sua relação com o vivido, a sua experiência de estar no mundo, o ser no mundo, contribuiu para que sua obra figure na categoria do extraordinário, do fantástico.
O artista perguntava se a sua vocação não estava ligada diretamente a uma distrofia visual que possuía, se este distúrbio em sua visão não era a causa da maneira toda especial de ver o mundo, que depois era transposta para suas telas. Uma relação visual que Cézanne mantinha com o mundo, como ele via as coisas, o que nos remete ao sentido do corpo e sua relação com o visível e consequentemente com a pintura, pois esta seria a extensão do corpo do pintor, tão bem defendido por Ponty em “o olho e o espírito”. Sabia da importância e da necessidade “do estudo geométrico, dos planos e das formas”, para a produção de uma obra, mas esta aplicação deveria estar em conformidade com o mundo visível. “Ao dar um toque, a anatomia e o desenho estão presentes”, a perspectiva, a geometria, a decomposição das cores, devem obedecer um único motivo: “a paisagem em sua totalidade e em sua plenitude absoluta”. Cézanne “germinava” com a paisagem.
Essa visão especial juntamente com sua techneé presenteou o mundo com maravilhosas obras de arte cezannianas.
Pelo que nos relata Ponty, o artista Cézanne, tornou-se um recolhido em seu próprio mundo, até mesmo os amigos mais íntimos como Zola, Émile Bernard, se detinham mais em atentar mais para seu caráter, sua personalidade, seu comportamento, os aspectos psicológicos de sua personalidade do que o sentido de sua obra, por isso, Zola, o tachou de ”gênio abortado”, pois não entendia a relação que o artista mantinha com o seu mundo, uma relação diferenciada, uma íntima conexão com a natureza, com as mais diversas manifestações do visível e até mesmo do invisível, só dada aos gênios, não é para todos. Os seus amigos não conseguiam enxergar essa genialidade, antes, “censuravam-lhe a instabilidade, a fraqueza e a indecisão”.
Dessa mesma situação de experiência com o mundo, essa visão para além das coisas aparentes, fez do pesquisador, Aby Warburg, considerado louco e internado como louco em clínica psiquiátrica, a desenvolver uma teoria da história calcada em uma temporalidade não-linear, em que as imagens, portadoras de uma memória coletiva, romperiam com o continuum da história, traçando pontes entre o passado e o presente.
Com os seus estudos sobre os processos de simbolização envolvidos nas práticas rituais dos índios, - experiência vivida pelo próprio Aby Warburg,no Novo México-, tratando-os como mecanismos universais voltados para o controle dos medos primitivos do homem diante das forças incontroláveis da natureza, um processo que, como ele conclui, estaria na base da formação das imagens significativas de todas as culturas, Aby conseguiu convencer seu psiquiatra que estava novamente em condições de retomar sua vida fora da clínica. A experiência da própria loucura também contribuiu para que Warburg compreendesse a força psíquica das imagens e sua relação com os medos mais primitivos da humanidade
Diferentemente de Warburg, Cézanne, foi tachado de esquizóide, uma espécie de personalidade neurótica recolhida em seu mundo. Podemos percebê-la logo quando sabemos da sua dúvida em relação à sua vocação. Poderá até ser exagero, mas não sei se podemos dizer que Cézanne era um assustado com o extraordinário de sua vida, de sua obra, não estabelecia relação da sua experiência com o vivido com o seu corpo, a sua arte, o que era expressado em seu comportamento arredio, um excêntrico colérico e depressivo, que chegou a se isolar do contato com as pessoas. “A idéia de uma pintura “direto da natureza” teria vindo a Cézanne da mesma fraqueza. A atenção extrema à natureza, à cor, o caráter inumano de sua pintura (dizia que se deve pintar um rosto como um objeto), a devoção pelo mundo visível seriam apenas uma fuga do mundo humano, a alienação de sua humanidade”.
Os amigos, Zola e Bernard, que só conseguiam enxergar as aparências, numa visão limitada, própria dos demais mortais, apostavam, “acreditavam em seu fracasso”. Mesmo assim, passando por distúrbios nervosos, Cézanne seguia produzindo “uma forma de arte válida para todos”, pois o “sentido de sua obra não pode ser determinado por sua vida”, como afirma Merleau-Ponty. Enfim, fica a máxima do autor/escritor sobre o artista: “esta obra a fazer exigia esta vida”.
Ricardo Carvalho, em 22/05/08
Merleau-Ponty nos traz para discussão, ao apontar as incertezas de Cézanne -, se a sua personalidade inconformada, excêntrica, rebelde, uma espécie de esquizoidia e a sua relação com o vivido, a sua experiência de estar no mundo, o ser no mundo, contribuiu para que sua obra figure na categoria do extraordinário, do fantástico.
O artista perguntava se a sua vocação não estava ligada diretamente a uma distrofia visual que possuía, se este distúrbio em sua visão não era a causa da maneira toda especial de ver o mundo, que depois era transposta para suas telas. Uma relação visual que Cézanne mantinha com o mundo, como ele via as coisas, o que nos remete ao sentido do corpo e sua relação com o visível e consequentemente com a pintura, pois esta seria a extensão do corpo do pintor, tão bem defendido por Ponty em “o olho e o espírito”. Sabia da importância e da necessidade “do estudo geométrico, dos planos e das formas”, para a produção de uma obra, mas esta aplicação deveria estar em conformidade com o mundo visível. “Ao dar um toque, a anatomia e o desenho estão presentes”, a perspectiva, a geometria, a decomposição das cores, devem obedecer um único motivo: “a paisagem em sua totalidade e em sua plenitude absoluta”. Cézanne “germinava” com a paisagem.
Essa visão especial juntamente com sua techneé presenteou o mundo com maravilhosas obras de arte cezannianas.
Pelo que nos relata Ponty, o artista Cézanne, tornou-se um recolhido em seu próprio mundo, até mesmo os amigos mais íntimos como Zola, Émile Bernard, se detinham mais em atentar mais para seu caráter, sua personalidade, seu comportamento, os aspectos psicológicos de sua personalidade do que o sentido de sua obra, por isso, Zola, o tachou de ”gênio abortado”, pois não entendia a relação que o artista mantinha com o seu mundo, uma relação diferenciada, uma íntima conexão com a natureza, com as mais diversas manifestações do visível e até mesmo do invisível, só dada aos gênios, não é para todos. Os seus amigos não conseguiam enxergar essa genialidade, antes, “censuravam-lhe a instabilidade, a fraqueza e a indecisão”.
Dessa mesma situação de experiência com o mundo, essa visão para além das coisas aparentes, fez do pesquisador, Aby Warburg, considerado louco e internado como louco em clínica psiquiátrica, a desenvolver uma teoria da história calcada em uma temporalidade não-linear, em que as imagens, portadoras de uma memória coletiva, romperiam com o continuum da história, traçando pontes entre o passado e o presente.
Com os seus estudos sobre os processos de simbolização envolvidos nas práticas rituais dos índios, - experiência vivida pelo próprio Aby Warburg,no Novo México-, tratando-os como mecanismos universais voltados para o controle dos medos primitivos do homem diante das forças incontroláveis da natureza, um processo que, como ele conclui, estaria na base da formação das imagens significativas de todas as culturas, Aby conseguiu convencer seu psiquiatra que estava novamente em condições de retomar sua vida fora da clínica. A experiência da própria loucura também contribuiu para que Warburg compreendesse a força psíquica das imagens e sua relação com os medos mais primitivos da humanidade
Diferentemente de Warburg, Cézanne, foi tachado de esquizóide, uma espécie de personalidade neurótica recolhida em seu mundo. Podemos percebê-la logo quando sabemos da sua dúvida em relação à sua vocação. Poderá até ser exagero, mas não sei se podemos dizer que Cézanne era um assustado com o extraordinário de sua vida, de sua obra, não estabelecia relação da sua experiência com o vivido com o seu corpo, a sua arte, o que era expressado em seu comportamento arredio, um excêntrico colérico e depressivo, que chegou a se isolar do contato com as pessoas. “A idéia de uma pintura “direto da natureza” teria vindo a Cézanne da mesma fraqueza. A atenção extrema à natureza, à cor, o caráter inumano de sua pintura (dizia que se deve pintar um rosto como um objeto), a devoção pelo mundo visível seriam apenas uma fuga do mundo humano, a alienação de sua humanidade”.
Os amigos, Zola e Bernard, que só conseguiam enxergar as aparências, numa visão limitada, própria dos demais mortais, apostavam, “acreditavam em seu fracasso”. Mesmo assim, passando por distúrbios nervosos, Cézanne seguia produzindo “uma forma de arte válida para todos”, pois o “sentido de sua obra não pode ser determinado por sua vida”, como afirma Merleau-Ponty. Enfim, fica a máxima do autor/escritor sobre o artista: “esta obra a fazer exigia esta vida”.
Ricardo Carvalho, em 22/05/08
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