
A linguagem indireta e as vozes do silêncio
A linguagem indireta e as vozes do silêncio
Merleau-Ponty estabelece uma relação nas vozes silenciosas da linguagem com o silêncio do pintor ao conceber a sua obra. Antes de ser pronunciada a linguagem ela está inserida num mundo de silêncio. A linguagem vai além dos signos e por isso é expressão. A escolha de uma palavra pelo escritor já determina a intenção deste em suscitar uma reação individual no leitor ou mesmo usando termo similar, a transmissão da mensagem não demandaria o mesmo efeito. O sinal inerente à palavra está inteiro de significações exteriores.
A preocupação de Ponty é que mensagem da língua seja bem codificada pelo leitor. “Temos que considerar a palavra antes de ser pronunciada, o fundo de silêncio que não cessa de rodeá-la, sem o qual ela nada diria ou ainda por a nu os fios de silêncio que nela tremiam”. Para ele, é preciso que os escritores usem mais figuras de linguagem para que então o leitor pudesse decodificar o texto, sentindo-o, descobrindo o que está por trás das letras, ouvindo as vozes silenciosas da linguagem, “pois que toda linguagem é indireta ou alusiva e, se quisermos, silêncio”.
Na pintura, Merleu afirma que o “pintor nos atinge através do mundo tácito das cores e das linhas” e requer de nós espectadores sua decifração, através da fruição de sua obra. Já o escritor, já está instalado num mundo cheio de signos que já existem, “num mundo já falante”, querendo dos leitores a capacidade de “reordenar as significações” de acordo com o que ele nos propõe.
Na sua abordagem da linguagem, Merleau nos propõe considerar a palavra antes de sua pronunciação, desvendando os “fios de silêncio” entrelaçados nela.
Em relação a pintura, Merlau-Ponty, considera-a de uma presunção que pretende nos tocar senão como as coisas do mundo, pois ela impõe aos sentidos um “espetáculo irrecusável”. Para ele, há uma imbricação entre os sentidos e a pintura, o mundo e a arte.
O pintor, segundo Ponty, não deve ter seu trabalho subestimado pelo escritor, pois o pintor faz um esforço “tão semelhante ao do pensamento”, o que equivale dizer que existe uma “linguagem da pintura”. A pintura desvenda o próprio “instante de ocorrência do mundo”, quando entrelaça corpo e mundo no gesto do pintor. Ela possui uma voz silenciosa que nos fala, através de seu todo ou de suas particularidades, cor, relevo, profundidade, perspectiva, etc. O sentido do quadro ou do conceber uma obra para o pintor está acima de qualquer regra, como Renoir pintando as Lavadeiras defronte ao mar, conforme nos relata Merleau, que ele “fitava não sei o que e modificava somente um cantinho”.
Merleau-Ponty tenta resumir suas indagações em três termos, percepção, história e expressão. Para ele, é legítimo falar na pintura como linguagem, pois “evidencia-se assim um sentido perceptivo, que capta a configuração vísivel e, entretanto capaz de recolher em eternidade sempre futurível uma série de expressões anteriores”.
A pintura nos dá uma produção para apreciação, não a partir do nada, e produz efeito em nosso ser, pois nos integra neste universo que ela representa e que nos fala não dizendo, mas através das impressões do pintor, da extensão do seu corpo que ali tocou, de seus traços, que nos olha, que nos fala, com suas cores e toda a atmosfera viva que a cerca.
Ricardo Carvalho, em 19/05/08
A linguagem indireta e as vozes do silêncio
Merleau-Ponty estabelece uma relação nas vozes silenciosas da linguagem com o silêncio do pintor ao conceber a sua obra. Antes de ser pronunciada a linguagem ela está inserida num mundo de silêncio. A linguagem vai além dos signos e por isso é expressão. A escolha de uma palavra pelo escritor já determina a intenção deste em suscitar uma reação individual no leitor ou mesmo usando termo similar, a transmissão da mensagem não demandaria o mesmo efeito. O sinal inerente à palavra está inteiro de significações exteriores.
A preocupação de Ponty é que mensagem da língua seja bem codificada pelo leitor. “Temos que considerar a palavra antes de ser pronunciada, o fundo de silêncio que não cessa de rodeá-la, sem o qual ela nada diria ou ainda por a nu os fios de silêncio que nela tremiam”. Para ele, é preciso que os escritores usem mais figuras de linguagem para que então o leitor pudesse decodificar o texto, sentindo-o, descobrindo o que está por trás das letras, ouvindo as vozes silenciosas da linguagem, “pois que toda linguagem é indireta ou alusiva e, se quisermos, silêncio”.
Na pintura, Merleu afirma que o “pintor nos atinge através do mundo tácito das cores e das linhas” e requer de nós espectadores sua decifração, através da fruição de sua obra. Já o escritor, já está instalado num mundo cheio de signos que já existem, “num mundo já falante”, querendo dos leitores a capacidade de “reordenar as significações” de acordo com o que ele nos propõe.
Na sua abordagem da linguagem, Merleau nos propõe considerar a palavra antes de sua pronunciação, desvendando os “fios de silêncio” entrelaçados nela.
Em relação a pintura, Merlau-Ponty, considera-a de uma presunção que pretende nos tocar senão como as coisas do mundo, pois ela impõe aos sentidos um “espetáculo irrecusável”. Para ele, há uma imbricação entre os sentidos e a pintura, o mundo e a arte.
O pintor, segundo Ponty, não deve ter seu trabalho subestimado pelo escritor, pois o pintor faz um esforço “tão semelhante ao do pensamento”, o que equivale dizer que existe uma “linguagem da pintura”. A pintura desvenda o próprio “instante de ocorrência do mundo”, quando entrelaça corpo e mundo no gesto do pintor. Ela possui uma voz silenciosa que nos fala, através de seu todo ou de suas particularidades, cor, relevo, profundidade, perspectiva, etc. O sentido do quadro ou do conceber uma obra para o pintor está acima de qualquer regra, como Renoir pintando as Lavadeiras defronte ao mar, conforme nos relata Merleau, que ele “fitava não sei o que e modificava somente um cantinho”.
Merleau-Ponty tenta resumir suas indagações em três termos, percepção, história e expressão. Para ele, é legítimo falar na pintura como linguagem, pois “evidencia-se assim um sentido perceptivo, que capta a configuração vísivel e, entretanto capaz de recolher em eternidade sempre futurível uma série de expressões anteriores”.
A pintura nos dá uma produção para apreciação, não a partir do nada, e produz efeito em nosso ser, pois nos integra neste universo que ela representa e que nos fala não dizendo, mas através das impressões do pintor, da extensão do seu corpo que ali tocou, de seus traços, que nos olha, que nos fala, com suas cores e toda a atmosfera viva que a cerca.
Ricardo Carvalho, em 19/05/08
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